top of page

Create Your First Project

Start adding your projects to your portfolio. Click on "Manage Projects" to get started

Afeto (2021)

“Tudo o que você toca
Você muda.
Tudo o que você muda
Muda você.
A única verdade que persiste
É a mudança.
Deus é mudança.”
Octavia Butler

O papel das imagens na construção de futuros e representações do presente se destaca diante de uma crescente crise do imaginário. Estamos atravessando um momento histórico em que narrativas fatalistas, de perdição e fim do mundo, se fortalecem em meio às tensões de um colapso da realidade como a conhecemos. Nesse contexto, sonhar caminhos para o futuro pode, às vezes, soar como ingenuidade.

A série “Afeto”, realizada no auge da pandemia, foi reinterpretada nos últimos anos enquanto uma tentativa minha, como artista, de reafirmar meu comprometimento com a criação de imagens que tornam acessíveis aos sentidos as infinitas possibilidades que a imaginação oferece. Ao priorizar o tempo fotográfico em sua forma espiral, fotografar e interpretar a realidade deixam de ser práticas meramente representativas, de natureza documental e histórica, para se tornarem ferramentas que permitem a ousadia de construir outras narrativas além daquelas que parecem ser as únicas possíveis. Fazer imagens torna-se um exercício ativo de fé, ao se misturar à "decência-boniteza" que Paulo Freire descreve como essencial ao pensamento crítico.

As fotografias desta série foram realizadas em filme 35mm, intensamente afetado por fungos, o que fez com que toda e qualquer previsibilidade sobre o resultado desaparecesse. Assim como o futuro, o processo laboratorial e experimental na fotografia nos treina para trabalhar com o espaço do impossível. Os fungos, por sua vez, agem sobre os filmes e papéis fotográficos devido à composição orgânica do material, interferindo como elementos vivos no potencial latente da imagem e afirmando sua participação e co-criação.

É da natureza de todas as coisas vivas se afetarem. A consciência disso e o contato sensível proporcionado pelo fazer artístico são ferramentas de poder. Experiências de conexão e afetamento sustentam a resiliência necessária para que, no mistério do que não conseguimos planejar, a imaginação persista como catalisadora de mudanças e propositoras de outras histórias.

bottom of page